quinta-feira, 10 de julho de 2008

NÃO (parte 1)

Não sou alto, nem baixo. Não estou em forma, não sou obeso, não sou gordo e nem sou magro. Não faço atividades físicas. Não pratico esportes. Não sou branco. Não sou negro. Meu cabelo não é curto, não é claro, não é liso, nem crespo. Não tenho olhos claros, nem castanhos, nem grandes, aliás não tenho orelhas, nariz ou boca grande. Definitivamente não sou o Lobo-Mau. Não sou mulher, nem homossexual. Não sou feio, tampouco chamo atenção. Não me considero novo, mas não sou velho. Não moro com meus pais. Não sou casado, não tenho noiva, nem namorada. Não divido apartamento com ninguém. Não ganho muito.. Não faço o que quero, nem o que gosto, não sei o que quero, não fiz o que gosto. Não aprendi a fazer coisas legais ou interessantes. Não tenho habilidades ou talentos...muito menos algum poder especial, portanto não sou um super-herói Não sou muito comunicativo. Não sou extrovertido. Não sou engraçado. Não sei contar piadas, não conheço muitas piadas. Não sou intelectual. Não sou melhor do que ninguém que conheço. Não sei fazer nada melhor que alguém que eu conheça. Não sou muito diferente de você. Não sou especial.
Defino-me assim, pelo não, é mais fácil. Tentar me definir pelo que sou levaria muito tempo, muitas palavras e muitos livros de auto-ajuda. E como não gastaria meu dinheiro comprando estes livros, não é possível dizer o que sou. Além do que o dinheiro seria muito melhor gasto com literatura.
Gosto de comprar livros, quando é possível vou a alguma livraria e leio o início dos livros que me chamam a atenção. Se o começo é bom eu compro, vez ou outra não chego à primeira página, decido pelo o epílogo.
Um bom epílogo: “Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas”. Pena que não estou morto, se estivesse, plagiava o digníssimo autor.
Um bom começo: "Aos 16 anos matei meu professor de lógica. Invocando a legítima defesa - e qual defesa seria mais legítima? - logrei ser absolvido por cinco votos contra dois e fui morar sob uma ponte do Sena, embora nunca tenha estado em Paris." E diz muito sobre o livro, é, digamos, essencial para compreender o livro, que o diga quem me apresentou-o.
O problema é que muito dos livros que li tem inícios decepcionantes. Na verdade já li muitos livros decepcionantes, mas quem não. Por mais que se evite, é um mal necessário.