quarta-feira, 28 de maio de 2008

Poema em Linha Recta

“Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó principes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.”

Álvaro de Campos

segunda-feira, 19 de maio de 2008

sábado, 17 de maio de 2008

Ensaio sobre a Verdade

Sócrates expulsou os poetas do Estado em “A República”, não bastasse isso, jogou fora suas obras. Isso porque objetivo dos poetas era copiar a realidade, entretanto essa já era a cópia de algo e a cópia da cópia não é algo que sirva para ensinar valores. Nas poesias os Deuses eram mesquinhos, hipócritas, dissimuladores, invejosos e arrogantes, mas os Deuses são entidades sobre humanas, seres perfeitos, exemplos de virtude e bondade, obviamente, não poderiam ser como diziam os poetas. Portanto, além de mentir, os poetas se vangloriavam e se inspiravam pelo falso. Não é novidade que Sócrates nunca escrevera nada, suas idéias chegaram a nós via Platão. É irônico lembrar que alguns pesquisadores defenderam a idéia de que Sócrates não existira, foi apenas uma invenção de Platão para exemplificar suas idéias. Além disso, Platão nem sequer chamava-se Platão. Pesquisadores também questionaram a existência de Homero e de Shakespeare. Pessoas afirmam terem visto ou conhecido Hilda Furacão, e um leitor de Humberto Eco questiona-se, e questiona ao autor, como uma personagem, ao passar por uma rua, não vira o incêndio que destruíra uma casa.
Claro que temos um problema quando Sócrates diz que os Deuses não eram dissimulados. Com certeza desconsidera que a Europa só tem esse nome porque Zeus, transformado em boi, seduziu a jovem Europa. Mas, é possível que Europa não tivesse esse nome na época de Sócrates. Entretanto é fato que o Estreito de Gibraltar foi separado por Hércules, e Sócrates sabia disso. Dessa forma Ulisses em sua viagem de regresso a Ítaca, pode passar pelo Estreito e fundar a cidade de Oulissipo, atualmente conhecida como Lisboa. Quisera que os lisboetas recebessem um pouco da astúcia de Ulisses e não só o gosto por viagens e pelo mar. O Ulisses, não o de Tróia, o irlandês, de Dublin, também gostava de viagens, só que a dele durou apenas um dia e virou atração turística, a do Ulisses de Tróia, bom, é uma incógnita. Seria interessante se a viagem de Dante virasse atração turística, tenho certeza que as Igrejas monopolizariam esse mercado.
Suspender a descrença é essencial para aceitar que em óperas os segredos são cantados em alto e bom som e para todos ouvidos.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Insatisfação

Um psicológo americano, G.W. Titchener, da Universidade de Platzlos - Pennsylvania, EUA, desenvolveu uma pesquisa a respeito das ações mais comuns de pessoas insatisfeitas. Titchener atende os alunos através do Programa de Assistência Psicológica e Psiquiátrica da Universidade. Após analisar vários dados, separaou um corpus de 300 alunos/pacientes, seus e de outros clínicos, dos quais relacionou as ações mais comuns de pessoas que se dizem insatisfeitas consigo ou com suas vidas. 76% desses alunos citam, repetitivamente, situações que creêm terem sido melhores, principalmente a infância. Titchener defende a teoria que esse comportamento saudosista, reflete uma crença, inconsciente, de que os sofrimentos atuais são consequência de uma época de bonança, felicidade e despreocupação. "Inconscientemente, essas pessoas acreditam e, algumas vezes, buscam manter um equilíbrio entre prazeres e desprazeres. O problema encontra-se no período usado na comparação, poucas pessoas tem lembranças definidas da infância, isto provoca um desconhecimento de uma medida. Dessa forma, a quantidade de desprazeres nunca ficará igual à de prazeres."

O psicólogo quer aprofundar sua pesquisa com base em dados de uma descoberta de cientistas da Universidade de Bergen, Noruega, que identifica o estado do cérebro que antecede ao erro. Seu intuito é provar que o inconsciente dessas pessoas insatisfeitas provoca o cérebro a entrar em um modo de descanso forçado. Nesse modo o sangue flui mais para a parte do cérebro mais ativa em momentos de descanso. Esse estado inicia-se, aproximadamente, 30 segundos antes de se cometer um erro. Isso ocorre com todos nós, mas em uma pessoas insatisfeita, de acordo com Titchener, haverá um aumento drástico na quantidade de decisões equivocadas.