segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Beliefs

Uma pesquisa a um grupo extremamente limitado de pessoas chegou a um número médio de 1 hora por dia gastas em busca de informação. O que me faz pensar a quantidade de informação que pode ser absorvida nesse tempo. Por que gastamos esse tempo em busca de informação? Chegamos sem esforço a uma resposta simples; “Para ficarmos bem informados e capazes de sobreviver em nossa sociedade”. Além dessa pergunta outra dúvida se apresenta; qual a quantidade de informação, de fato, convertida em conhecimento? O que me lembra toda aquela situação no Irã, estampadas em letras garrafais na capa de uma respeitada revista nacional “Irã 2.0” (o trocadilho é tão interessante que me deixou estupefato). As noticias eram atualizadas em 140 caracteres a uma velocidade que desconheço por não saber se os iranianos têm acesso à banda-larga. O problema que ao fim dessas 1 hora, com certeza, a informação já está defasada, e aquelas fotos nuas de nossas de suas artistas favoritas que acabei de descobrir na internet já não são tão sensacionais, por que outra foi pega “pagando calcinha”. Infelizmente enfrentamos a grave possibilidade de manipulação da informação. E aqui chegamos à encruzilhada, em quem acreditar? Na sólida e idônea carreira de mais 50 anos comprometidos a informar e entreter o público ou nos filantrópicos fundadores de uma igreja, que adquire meios de comunicação para difundir a palavra do Senhor e sua filosofia humanista. Claro que essa, é só mais uma das dúvidas que perpassam a nossa mente quando buscamos informações. Sanada, ao usarmos como fonte instituições internacionais ou enciclopédias públicas. É tão gratificante ficar livre das amarras impostas pelos meios de comunicação nacionais e ser iluminado por conhecimentos tão livres de influências pessoais. Não ainda satisfeitos criamos nosso próprio cânone informativo, salvo em nossos Favoritos, recheados de blogs, flogs, twitters, nos quais pessoas dotadas de uma inteligência superior e de muito tempo ocioso (na concepção grega do termo), analisam, pesquisam, confirmam e comentam as informações creditadas como mais importantes. O que nos poupa o dispendioso, oneroso e infrutífero trabalho de fazer o mesmo. Portanto somos privilegiados com a possibilidade de usar a internet e obter informação rápida, gratuita e segura. Entretanto o número de pessoas que escolhem a obscuridade da ignorância é assustador, afinal a soma dos dez sites ou empresas de sites mais visitados do mundo atinge a irrisória marca de uns 3,8 bilhões de visitas diárias (isso sem considerar que eu visito 6 deles por dia). Apesar dos esforços louváveis de um grande número de pessoas comprometidas em informar e proporcionar material para discussões de relevância mundial como o repugnante caso da brasileira atacada na Suiça. Muitas pessoas ainda resistem e tentam manter-se apáticas diante de tantos acontecimentos alegando a falta de qualidade de nossas fontes de notícias.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

There’s no life without destruction

Eu lembro que quando entrei na faculdade um professor arrogante e egocêntrico disse que estava ali para destruir todos os castelos de areias que nossas mentes incultas e bárbaras construíram em nossos anos submissos ao senso comum. Inútil dizer que todos cederam diante dois semestres de prolixos ataques verborrágicos. Muitos defendidos por inúteis cruzadas cristãs. O problema que essas frágeis estruturas mentais reconstruem-se incessantemente ao menor contato com quaisquer verdades defenestradas por qualquer autor de livro de auto-ajuda. E são novamente implodidas por conhecimentos acadêmicos iluminados. Ao fim deste período em que parecíamos crianças brincando com lego, desenvolvi a mania destrutiva, caótica, sado-masoquista e orgástica de ver castelos desfazendo-se em cacos. Particulares, públicos, próprios, de terceiros, nada importava, desde que pudesse chegar ao clímax limitado e breve e de ver em grãos tais estruturas. Essa mania foi só mais uma ilusão de que eu poderia ser quem quisesse, e eventualmente converteu-se em uma das mentiras mais elaboradas de meu ID. Mas, isso ou fugir para o mundo fantasioso e perfeito da embriaguez química. Até que um dia ou outra algo acontece e construímos um castelo um pouco mais firme e que não seja fundamentado pelo sacrossanto conhecimento acadêmico. Pode ser qualquer porcaria ou qualquer pedaço de diamante. A morte de alguém, a conversa com alguém no ônibus, um insight depois de chutado uma pedra ou alguém. Poderia inventar uma quantidade infinda de mentiras e criar causas para mais uma estrutura que eventualmente irá desabar. Ou sumir tão completamente que sua ausência anule todas as possibilidades de construir algo. Mas devaneios terminam sempre em catastróficos acidentes aéreos nos quais não existem possibilidades de sobrevivência.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

I am Jack, and I clearly hate you all

Uma vez na vida me amaram. Essa época de ouro passou, hoje, vivo em uma cidade cercado por pessoas estúpidas. Raramente interessadas em algo mais do que caberem em uma roupa. Quanto mais pessoas conheço, quanto mais esboços humanos interferem o meu cotidiano ridículo, mais certeza eu tenho da imbecilidade alheia, e da minha. Ninguém é confiável, sempre se espera o pior, decepções. Tudo é tão natural que inventa-se a desculpa ridícula que enganarmos uns aos outros faz parte da vida, que nos conformemos com essa realidade. Não é pessimismo, é a pura realidade. A mesma realidade mantida a distância por grades, vidros, velocidade, virtualidade. Ilusões criadas e mantidas para que nos preocupemos em sobreviver, sem se importar com quem não interessa. Ninguém me interessa, nem sobreviver. Deixar um rastro na história é um devaneio esperançoso dos fracassados. A minha esperança consiste na expectativa da enganação, trapaça, da ofensa. É sempre bom estar preparado e conformado. É simplesmente mais fácil manter distância e ser indiferente. É bem fácil ser babaca. Nadamos em latrinas sociais, e nos gabamos do cheiro de merda que exalamos. Não nos distanciamos do ralo por que sentimos falta do nosso cheiro. Se eu tiver sorte, morrerei jovem, enganarei poucos, serei um cadáver bonito, terei um discurso comovente, um epitáfio breve e vago, e ninguém se lembrará de mim.

sábado, 27 de junho de 2009

Espera

Uma vez me disseram que pessoas inquietas estão fugindo de algo. Mas também me disseram que no redemoinho tem um diabo. Ainda não sei por que eu continuo andando, ainda acho que é por causa dos diabos e dos redemoinhos. Nem sei muito bem do que eu estaria fugindo, já que não sei o que deixei para trás. Devem ser os diabos que fizeram isso comigo, mas, realmente, não me importo. É tão bom sair por aí, rodando, viajando. Deve ser por isso que o diabo fica no redemoinho. A gente vê pessoas, lugares, tanta gente diferente e igual ao mesmo tempo. Acho que é bem fácil pro diabo enganar as pessoas. Aposto que ele está me enganando também, que não sou eu quem coleciona diabos, mas o diabo que me coleciona. Ainda assim, vou continuar perseguindo redemoinho. Não importa muito o por que. Diabo não tem um por que para enganar as pessoas, as pessoas não têm um por que para serem más ou boas com as outras, porque eu tenho que ter uma explicação. A diferença é que minha conversa é com o diabo. Temos uma prosa boa, é sempre rápida, mas é boa. É igual aquela idéia de jogar xadrez com a Morte, não importa quem ganha, vou morrer mesmo. Pois é né, estou aqui parado, sentado no chão olhando para frente esperando, ou a vontade de levantar ou um redemoinho, os dois me tirariam daqui.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Misfit

... Silêncio. Luzes. Reflexos. Parece que estou flutuando. As coisas acontecem em câmera lenta. Eu estou na água. Afundando. Tento respirar, como se não soubesse o que aconteceria. A água salgada invade minhas narinas, minha boca. Eu engasgo e começo a tossir quando a água salgada atinge a epiglote. De repente o mundo se enche de ruídos ensurdecedores, tudo volta a se mexer como se quisesse recuperar o tempo perdido. A velocidade, os barulhos, as luzes tudo é atordoante e desnorteante. Debato-me em busca da superfície, braços e pernas se mexendo freneticamente, tentando impulsionar o corpo para cima. Meus movimentos ficam rijos as pontas dos meus dedos se contraem, parece que irei parar a qualquer momento... Eu sorvo a maior quantia de ar que consigo, assim que minha cabeça emerge da água. Neste exato momento de alivio uma onda quebra e me joga novamente para o fundo, sem poder aliviar a falta de ar, tenho que me debater novamente para atingir a superfície e esperar que eu não esteja em alto mar. Várias ondas me jogam para frente e para o fundo toda vez que tento respirar, já não sei há quanto tempo estou nadando, todos os músculos de meu corpo doem lancinantemente. Posso sentir meu coração batendo em cada parte do meu corpo com uma força ensurdecedora que me aliena de tudo ao meu redor, a única coisa importante é conseguir respirar, conseguir pisar em terra firma, parar de bater braços e pernas e ter certeza que não serei tragado por mais uma onda gigante como se eu fizesse parte dela. A medida que meu coração se cala posso perceber as coisas a meu redor, de como luto futilmente , de uma praia a distância, do infinito azul do céu e do mar, de como o meu esforço, de como eu sou insignificante. O ritmo das pernadas e braçadas diminuem, como se meu corpo quisesse me mostrar a verdade da situação, eu morrerei. Vejo a praia novamente. Uma tentativa derradeira, o último esforço, o meu provável réquiem. Aumento a força e a velocidade do nado, meus músculos reclamam do esforço anormal. As únicas coisas existentes são minhas pernas e braços. Não sei a distância da praia, não sei onde estou, não sei que direção estou indo. Só vou. As malditas ondas começam a quebrar com toda força nas minhas costas, a diferença, que agora me jogam contra a areia que esfola minha pele. Toda vez que me levanto uma onda tira meu equilíbrio e novamente me esfrega na areia, mais esforço para conseguir levantar todas as vezes que caio, mais esforço para andar na água com roupas encharcadas. Meu corpo grita de dor, e cansaço. A quantidade exorbitante de ácido lático e adrenalina me deixam completamente alucinado. Só sei que quero sair da água poder ter certeza que não precisarei mais nadar. Que poderei descansar e respirar. Meus joelhos cedem, caio de bruços, vomito e desmaio.
Abro os olhos e me levanto desesperado. Preocupado que ainda esteja me afogando. A claridade me deixa cego por alguns instantes, enquanto as coisas entram em foco, ouço a barulho do mar, e de pássaros, sinto o vento salgado, a areia, o sol e o gosto acre, ácido e salgado deixado na boca pelo vômito e pela água. A praia se mistura com o mar e com o céu no horizonte de ambos os lados. A solidão dessa vista é tão pesada quantos as pedras que formam o íngreme paredão atrás de mim....

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Nada

Não importa muito o lugar, nem como você chegou lá, muito menos por que está nele. Simplesmente está lá, a festa acontece dentro da casa, enquanto você está sentado do lado de fora olhando para o céu, para a rua, para o mendigo mexendo nas latas de lixo, para arvores, para o nada. Se alguém lhe perguntar o que olha, você responderá assustado “O que?” Se essa pessoa existir ela te tirou de um longo período de ausência para responder uma pergunta imbecil como “o que você olha?” Claro que você não conseguirá responder, porque olhava tudo, mas não via nada e sequer tinha consciência disso. Em algum momento um alguém aparecerá e te chamará atenção por que faz exatamente as mesmas coisas que você, foge da confusão da festa, veio com a desculpa de “pegar um ar”, olha em volta com um olhar mais perdido que o teu, obviamente, não te vê, senta em um lugar qualquer e olha para o nada. Você não quer atrapalha-la com uma pergunta imbecil. Permanece olhando-a, em pouco tempo para de olhá-la para admirá-la, seu cabelo, seu corpo, o perfil de seu rosto, como a roupa que usa lhe cai bem, sua postura. Toda tua atenção se concentra nela, admirá-la, ouvir o silêncio que a envolve, sentir o cheiro de seu perfume. Essa pessoa não era mais um alguém qualquer, sem importância e inexistente, como a maioria das pessoas que vieram até aqui, ou que passaram na rua, ou que passaram por tua vida. No momento ela é a única coisa que existe para você. Você levanta-se, faz, propositalmente, um pouco de barulho para não assustá-la e senta-se ao lado dela. Não diz nenhuma palavra, tampouco se senta muito perto, nem lhe dirige o olhar. Ela te olha, um olhar de reconhecimento, e volta a olhar para o nada. Os dois em silêncio, por uma breve eternidade, o silêncio. Você ri, aqueles pequenos risos de canto de boca que acontecem quando se lembra de algo não muito engraçado ou irônico. O silêncio parece durar outra breve eternidade. Você se lembra de Mia dizendo a Vincent que você sabe quando encontra alguém especial se consegue ficar minutos sem dizer qualquer idiotice, apenas aproveitando confortavelmente o silêncio. Foi algo bom de se lembrar, a pessoa a teu lado já não é, somente, um alguém, agora ela é alguém especial. E isso era tudo que você queria.

- Você sabe quando encontra alguém especial se consegue ficar minutos sem dizer qualquer idiotice, apenas aproveitando confortavelmente o silêncio.

Você mal percebeu quando ela começou a falar, a voz baixa, calma e triste. A voz dela parecia mais a continuidade do silêncio. Seria como ouvir um trovão se ela tivesse falado de maneira diferente. Você ri de novo, sem ruído, um riso para ela ver que riu, e diz que pensara a mesma coisa, e chama-a de Mia, apenas para mostrar que você conhece essa fala e que você se lembrou dela. Vocês trocam olhares e ela te pergunta se agora não seria a hora que você deveria beijá-la. Era exatamente isso que você pensava, mas quando ela expôs tão naturalmente o teu pensamento, executá-lo tornou-se impossível e você desvia os teus olhos dos dela e volta a olhar o nada. Você percebe que ela sorri e também volta a olhar o nada. Ela te pergunta exatamente o que pensara em perguntar "Qual é a sua história?" e volta a te olhar. Você encontra a resposta no nada, a triste realidade que sempre soube, mas que escondia contando histórias ridículas de seu passado. Você a olha e diz que tua história é a mesma que a dela.

- Não tenho uma, sou apenas eu.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

“o diabo na rua, no meio do redemoinho....”

Quando pequeno achava mágico os redemoinho que apareciam no meio da rua, sempre imaginava que poderiam se transformar em ciclones se algo não os parasse. Mas tampouco queria que parassem, corria para entrar no meio deles e esperava que a força do vento me fizesse voar e rodopiar, nunca acontecia e o redemoinho morria. Com o tempo descobri que era eu quem os matava. Eu cresci andando pelas bandas do mundo, e assistindo e matando os redemoinhos na esperança que um fosse mais forte que eu e me fizesse voar e rodopiar. Sempre em movimento como o vento e os redemoinhos, não parava em algum dos confins do mundo eu acharia o redemoinho que me mataria. Em um lugar perdido vi o redemoinho e fui cumprir minha sina, no meio do caminho uma senhora, bem velha, disse para eu não chegar perto, que no redemoinho estava o demo e que enfeitiçava as pessoas a irem embora com o vento. Não dei ouvidos, era o assassino de redemoinhos. As crianças da vila gostaram da brincadeira, mas a velha e muitos outros nem deixaram que elas experimentassem a sensação de matar o redemoinho. Tive de ir embora da cidade, depois de entrar no redemoinho eu estava com o demo no corpo, tinha pactado com O Coisa-Ruim. A vila perdida não gostou. Depois de sair me veio a idéia que eu fora enfeitiçado, eu rodava pelo mundo atrás do vento, mas mais que isso. Eu colecionava diabos.