terça-feira, 9 de novembro de 2010

I Had a Dream

“Eu tive um sonho no qual meus 4 filhos viveriam em uma nação na qual eles não seriam julgados pela cor de suas peles”. Não. Alguém teve esse sonho e sonhou muito mais. Sonhou com equidade entre os diferentes, com respeito entre os estúpidos, com inteligência entre os ignorantes. Meus sonhos não são tão altruísticos. Não fazem do mundo um lugar melhor, onde todos gostariam de viver. Não. No meu sonho só eu gostaria de viver, simplesmente por que é meu sonho, e tudo e todos nele movem em volta de mim! Pessoas aleatórias, que não conheço, se conheço não me importo e possivelmente não suporto, não usufruiriam da bondade do meu inconsciente. Diferente da minha vida, na qual nada acontece comigo e sim com os outros, na qual sou coadjuvante. A vida que passa em tédio absoluto preenchida por tentativas frustradas de se conseguir algo. No sonho eu sou o principal, tudo acontece comigo, até a possibilidade de morrer e continuar vivendo, eu fico com a mulher que todos desejam, sou ou posso ser exatamente quem eu quero, com possibilidades de bônus aleatórios despejados como brindes pelo caótico inconsciente. Posso ter o que quiser, estar onde quiser, meu céu pode ser um Monet e a trilha sonora não ser corrompida por ruídos grotescos. Obviamente, você já percebeu, não se vive nos sonhos, e ao contrário do que filmes estúpidos dizem com seus chavões e filosofias mais imbecis ainda, a vida não gosta de quem gosta dela. Ela não se importa, ela não é justa ou injusta, ela só é. Por que diabos alguém trocaria um sonho por tudo isso, ou por nada do que se espera. No sonho é tudo igual, nunca se sabe quando se sonha e principalmente, nenhum filho da puta te da um tiro no meio da rua por que ele quer roubar a mixaria que está na sua carteira. Isso até pode acontecer, mas você nunca morre de verdade, então não faz diferença. A gente fica aqui se enganando que vamos conseguir alguma coisa, que teremos uma vida boa, regada de confortos materiais, uma considerável calma espiritual e mental, da qual você terá orgulho, e sempre achará que não seria hipocrisia sua se perguntasse para alguém com um tom incriminador e enojado “Como você dorme a noite?” Eu achava que tudo isso, que fui bom, generoso, honesto, virtuoso, que iria para o céu e seria recompensado, como diz a bíblia, com a vida eterna e quem sabe as 40 virgens. Não. Aquele cara correndo insanamente desesperado com a minha carteira em uma mão e um revólver ainda quente na outra, tinha outros planos. Toda minha honra, bondade minha moral crista, cultivada arduamente durante anos, estão jogadas no chão, misturadas com o sangue, com a sujeira da rua que a água da chuva trouxe sei lá de onde, com os restos das solas dos sapatos das pessoas que passam por aqui, com o cheiro de urina e de esgoto. É impossível de não imaginar. Eu, definitivamente, gostaria muito de um filme que começasse assim, mas, principalmente, de um que terminasse assim. Justamente no momento em que achava que tudo daria certo. Malditas ilusões!

4 comentários:

Leon disse...

Que doido vei. Gradei.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Isso me lembra uma conversa aqui em casa em um final de semana desses!

Jojo disse...

Vc escreve bem... Curti... :p